sexta-feira, 25 de agosto de 2017

QUANDO NÃO HÁ MAIS NADA....

Quando não há nada mais a ser dito, silencia.
Quando não há mais nada a ser feito, permitas apenas ser, apenas estar e fica na companhia do teu coração e este indicará o momento apropriado para agires.
Quando a lentidão dos dias acomodar tua vontade, enlaçando-te com os nós da intranquilidade, descansa e refaz tua energia.
Não há pressa, a prioridade é que tu encontres novamente a tua essência para que tenhas presente em ti a alegria de ser e estar.
Quando o vazio instalar-se em teu peito, dando-te a sensação de angústia e esgotamento, repara tua atenção e encontra em ti mesmo a compreensão para este estado.
É necessário descobrirmo-nos em tais estados, para que estes não se transformem no desconhecido, no incontrolável.
Tudo pode ser mudado, existe sempre uma nova escolha para qualquer opção errada que tenhas feito.
Quando ouvires do teu coração que não há nenhuma necessidade em te preocupares com a vida, saibas que ele apenas quer que compreendas que nada é tão sério a ponto de te perderes para sempre da tua divindade, ficando condenado a não ver mais a luz que é tua por natureza.
Não te preocupes, se estiveres atento a ti mesmo verás que a sabedoria milenar está contigo, conduzindo-te momento a momento àquilo que realmente necessitas viver.
Confia e vai em teu caminho de paz.Nada é mais gratificante que ver alguém submergindo da escuridão apenas por haver acreditado na existência da luz.
Ela sempre esteve presente..."
São Francisco de Assis

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Casade dentro


Casa de dentro

Hoje, acordei menina,
florindo no quintal da avó,
atrás da velha casinha de madeira,
onde rosas, alecrins e margaridas,
emprestam simplicidade a vida...

Despertei de riso grande,
com a alma completamente nua,
vestido florido no corpo,
vento fresquinho no rosto,
pés descalços,
luz funda no olhar...

Acordei com a fala aveludada,
carregando no peito a vontade de cantar,
respirando vida e alegria,
colhendo fruta madura no pé,
desenhando um mundo inteiro de areia,
em águas de riacho a me banhar...

Despertei vagando livremente,
sem rumo,
sem bicho papão,
lobo mau,
boi da cara preta,
e, sem ninguém a atormentar...

Acordei sentindo-me parte de um milagre,
sorvendo os cheiros e os sabores,
sobrevoando entre formas e cores, delicada
com o coração no compasso da alegria,
borboleta branca delicando o dia...

Tudo o que sei,
é que acordei menina,
florindo no quintal da avó,
como alguém que trancou a tristeza na casa de dentro
e levou a menina a passear... 

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

A MÁQUINA DO MUNDO.


(Carlos Drummond de Andrade)
E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco
se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas
lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,
a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.
Abriu-se majestosa e circunspecta,
sem emitir um som que fosse impuro
nem um clarão maior que o tolerável
pelas pupilas gastas na inspeção
contínua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentar
toda uma realidade que transcende
a própria imagem sua debuxada
no rosto do mistério, nos abismos.
Abriu-se em calma pura, e convidando
quantos sentidos e intuições restavam
a quem de os ter usado os já perdera
e nem desejaria recobrá-los,
se em vão e para sempre repetimos
os mesmos sem roteiro tristes périplos,
convidando-os a todos, em coorte,
a se aplicarem sobre o pasto inédito
da natureza mítica das coisas.
(Trecho de A Máquina do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade).

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

CAMINHOS

Caminhos ??


Tentei!!
Percursos .. caminhei!!! 
Onde me encontro??
Não gostei...!!
Mas caminhos!!
Sei que bem ou mal sempre lutei...!!
Apesar das deficuldafes.
Ainda tive momentos que amei.
Saudade??
Sim caminhos eu tive...!!
Contigo venho a descobrir a verdade.
Até amanhã caminho.
Te dou obrigado meu caminho.
Pora eu saber guardar a saudade!!

Filipe Alpoim.

sábado, 5 de agosto de 2017

O VALE DOS FETOS

 
 
O VALE DOS FETOS

Quando somos pequenos, o tempo é enorme. Os anos 80 tiveram, aliás, os verões mais longos desde que há registo. São dados de autoridades variadas, NASA inclusive. Foi um fenómeno único e irrepetível posto que entre o final das aulas e o seu recomeço passavam mais de três meses mas, subjectivamente, passavam aí uns três anos. Quando somos pequenos, o tempo conta-se como o dos cães, cada ano vale aí por uns sete e cada mês por quase um ano. Tudo é gigante mas tudo gira à nossa volta, até a lua nos persegue quando vamos sentados no banco de trás do carro. Somos o centro central centrão mindinho desse universo colossal. Não há memória de uns verões tão intermináveis, tenho dito. Nos anos 90 já não foram tão grandes e, depois de chegar o século XXI, quase desapareceram e parecem mesmo em vias de extinção. Factos confirmados por instituições.
Nos anos 80, em Setembro, depois da época de praia íamos ao Luso, para uma pequena casa já na fronteira com a mata do Bussaco. A viagem desde Coimbra - onde morávamos- era curta. Até a nós parecia curta. Chegados, já não havia nada para fazer. Já tinha passado o mundial, o rally de portugal e a volta à França em bicicleta, os jogos sem fronteiras e tudo e tudo. O televisor ficava desligado, abandonado no canto da sala, magnético de pó fino, como há quem faça à tia desmoriada e muito antiga. Já não havia praia nem os magotes de primos, esses queridos irmãos de verão e natal. Já tinham acabado os gelados da Figueira da Foz. Era Verão porque o Verão só acaba às portas de Outubro, porque a escola só recomeçava em Outubro. Era verão porque continuava calor, o cheiro a incêndio ia e vinha e as cigarras ainda enchiam o silêncio do serão. Nada a fazer. Eu e o meu irmão mais velho lá arranjávamos coragem para entrar na mata. Furávamos entre os cedros, as sequoias e os azereiros, descíamos ao vale dos fetos (nome que me ocupava nas noites demasiado quentes para adormecer) e perdíamos-nos no bosque de adernos. Era a loucura e o dia ganho se víamos pica-paus ou tritões. Nunca víamos mas inventávamos que tínhamos visto. A mentirola enchia-nos o dia duas vezes: uma porque quase acreditávamos que tínhamos mesmo topado uma águia-calçada, outra porque ainda tínhamos o frisson da peta. Quase víamos, praticamente tínhamos visto, era possível. Aí está o que era importante. A mata tinha sempre um potencial de perigo e isso é que interessava no meio daquele abafo modorrento. 
O mesmo nas raras idas à piscina olímpica do grande hotel do Luso. O espelho de água estendia-se os 50 metros de comprimento e, quando abria de manhã numa terça ou numa quarta feira de Setembro, desses verões mais longos desde que há memória, ela ficava assim quieta, imóvel, majestática, como bailarina em pose, como se tivesse congelado com 36 centígrados cá fora. Mas pouco queríamos saber disso. Corríamos para o final da pista, mais rápido do que nadaria Mark Spitz, e subíamos a escadas das pranchas. A cerimónia era sempre a mesma: primeiro a de 3 metros. Canja. Depois a de 5. Confirma. Por fim, a rainha, a prancha de 10 metros de altura. O mundo era tão grande, nós tão pequenos e aqueles 10 metros, o equivalente a um terceiro andar, pareciam um salto de um arranha céus. Mas faziam-se. Depois de uma boa meia hora lá em cima, entre o medo de saltar e o medo de descer as escadas (feitas apenas para subir), entre a excitação e a vergonha, lá se acabava por deixar o corpo tombar, primeiro olhos bem abertos e depois selados de pavor, sempre com a cabeça cheia daquela lenga lenga de "aterra de pés ", "cuidado com as chapas". Quase que acontecia. Podia ter acontecido. Isso é que interessa Depois era dia 2 de setembro, dia 3, dia 4. Ouvia -se um relógio de pé alto e pêndulo que não existia. Dia 9. Dia 11Quando a minha infância estava quase a acabar cheguei à conclusão de que estava tudo certo - assim , com esses verões distendidos, só com essas verões fenómeno, voltava e crescia a vontade de regressar à escola. Como eram sábios os crescidos e como para eles o universo era pequeno e domável. Até crianças com ganas de aprender conseguiam fabricar. E em tão pouco tempo. Dados da NASA.

A.D,